sexta-feira, 13 de abril de 2012

Erro

Estuda, estuda, estuda, estuda...
É uma ingenuidade pensar em aprender,
e eu gosto de pensar mesmo assim.

E na hora de ser pragmático, tomar as rédias,
em fim, na hora de fazer alguma coisa disso tudo,
erra, erra, erra, erra...

E o não fazer? ótima ideia para não errar,
e enquanto a frequência do erro diminui
sua amplitude aumenta infinitamente.

Pois que eu acreditei no engenheiro,
o nerd da camisa de botão, manga curta,
caneta e calculadora no bolso, sapato lustroso

Esse não erra! Erra?
Erra e erra e erra
e mede o erro.

Enquanto a frequência do erro aumenta,
nesse processo iterativo chamado pesquisa cientifica,
sua amplitude diminui, e é aceita.

Assim é tudo,
assim se faz tudo,
aceita-se o erro.

sábado, 10 de dezembro de 2011

ao Leal do Bip-Bip (dezembro de dois mil e onze)

  Dos bordões de um seis cordas aos elevadores prediais, a bossa-nova nunca fez senão aumentar a monotonia. A sublimação da baixaria num sequencial bater de bordão, antes de remeter ao surdo de primeira da mangueira, para quem tem a referência do surdo de primeira da mangueira, remete aos filmes americanos em que o mocinho durante a perseguição, numa transição cômica, entra num elevador onde está tocando bossa-nova.

  A referência é de quem a tem, sugere exatamente algo que já estava do lado de dentro, e não importa o quanto por fora possa parecer piada, é sempre mais divertida a interna. Quem nasce no Rio de Janeiro pode gostar de rock, jazz, deve gostar até de samba, mas tem por certo a referência da bossa-nova. Foi assim que me apareceu esse bar de dezoito metros quadrados, com três paredes, duas geladeiras e uma dúzia de mesas. Passei na frente do bar e ouvi, raros são os lugares onde se toca bossa-nova em roda, em roda assim como se toca o choro ou o samba, e o mais raro de todos é o bip-bip. Pequeno demais para caber tudo que se passa por ali, porquanto, as referências que são de cada um, ou as loucuras, por melhor se dizer, lá se materializam para preencher cada centímetro quadrado com música, cerveja, cachaça, esporro, amizade, gestos, olhares, algumas coisas mais sutis e não há densidade maior no mundo.

  As paredes cobertas de quadros, fotos, guardanapos rabiscados, muitas gravuras feitas por crianças, escudo do botafogo, santinhos de políticos, as pessoas embriagadas, os ânimos em uníssono, e logo da entrada se vê uma faixa branca revelando a idade e a missão da firma, está escrito, Bip-Bip a trinta e tantos anos a serviço do porre e da amizade, é um culto profano à vida e à boemia. Essa noite eu sabia que haveria a tal roda de bossa-nova e eu fui com o meu violão. Mal sentei e se pediu por um minuto de silêncio, silêncio pelo acontecido. Eu, que não sabia do acontecido, sabia por educação respeitar o minuto de silêncio dos outros. Sabia ainda que não eram raros os filmes americanos que ajudavam a envelhecer a bossa, e que mesmo assim essas mesmas referências levavam pessoas loucas ao Bip Bip, a única coisa que eu não sabia, e isso o Chiquinho me contou, é que os filmes eram semppre muitos, pois numa firma grande como hollywood tudo tem que ser substituivel, mas numa firma pequena, como a nossa, nada é substituivel, e foi assim que a boemia levou de nós o Leal, único e eterno gerente do Bip-Bip.

achei essa foto dele na internet, mas tenho certeza que tenho outra aqui em casa em algum lugar, vou ver,
 http://silenciopalavra.blogspot.com/2008/11/encontros-com-leal.html



terça-feira, 22 de novembro de 2011

Capelo

  Vi um homem de capelo no fundão. Pareceu apropriado, não que eu soubesse da celebração de formaturas às terças no Centro de Tecnologia, mas esse chapéu quadrado também é usado para fotografias, pode ter sido dai que ele veio. O homem parecia completamente feliz, com o passo apertado de quem tem muito o que realizar, mas realizado com o que tinha ali. A realização se torna óbvia quando alguém anda com o sorriso colado, passo firme e cabeça erguida. Não que eu esteja supondo que a realização pudesse advir do fato de se colocar um chapéu, mas nesse caso vinha do efeito que esse chapéu causou nas pessoas que passavam. 

  Faltava-lhe a beca, o barrete, a faixa e o canudo. Mas acho que nada daquilo importava, e provavelmente ninguém se sente muito confortável andando com aquele paramento todo, ademais isso iria alterar o passo e pecar por excesso. Estava completo. Era um homem, seu capelo, mesmo que muitos já tivessem alugado aquele capelo que hora estava na sua cabeça, pois agora era o seu capelo, e seu oficio a frente, não que o oficio fosse o motivo exclusivo da felicidade, nada disso, o importante ali era só uma coisa, a imagem. O homem assobiava de alegria ou para sinalizar a sua presença, sua e de seu quadrado.

  Esse homem já deve ter passado por aquele caminho várias vezes, mas aquela foi a única vez que me dei por ele. O homem, que causava mais impressão que um formando comum, pois esses usam seus paramentos adequados nas ocasiões adequadas, cumpria seu oficio de levar as caçambas de lixo para fora, e parecia mais feliz que muitos doutores.

domingo, 20 de novembro de 2011

casamento

  Foi casamento ontem. É o terceiro em menos de dois meses, os casais entre vinte e cinco e vinte e sete anos. Paulinha Vilela, era unha e carne comigo na época de colegio. Legal ver uma amizade histórica reverenciada. Casamentos são festas sempre legais.
  A juiza de familia leu um texto de Mario Quintana de titulo "sermão do casamento", deve ter sido facil, colou na internet, imprimiu e foi, alias quero ser juiz de paz quando crescer, ganha-se muito bem pra casar as pessoas, ou eu podia ser Mario Quintana que já estava bom:

"Em maio de 98, escrevi um texto em que afirmava que achava bonito o ritual do casamento na igreja, com seus vestidos brancos e tapetes vermelhos, mas que a única coisa que me desagradava era o sermão do padre:
"Promete ser fiel na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amando-lhe e respeitando-lhe até que a morte os separe?"
Acho simplista e um pouco fora da realidade. Dou aqui novas sugestões de sermões:
- Promete não deixar a paixão fazer de você uma pessoa controladora, e sim respeitar a individualidade do seu amado, lembrando sempre que ele não pertence a você e que está ao seu lado por livre e espontânea vontade?
- Promete saber ser amiga(o) e ser amante, sabendo exatamente quando devem entrar em cena uma e outra, sem que isso lhe transforme numa pessoa de dupla identidade ou numa pessoa menos romântica?
- Promete fazer da passagem dos anos uma via de amadurecimento e não uma via de cobranças por sonhos idealizados que não chegaram a se concretizar?
- Promete sentir prazer de estar com a pessoa que você escolheu e ser feliz ao lado dela pelo simples fato de ela ser a pessoa que melhor conhece você e portanto a mais bem preparada para lhe ajudar, assim como você a ela?
- Promete se deixar conhecer?
- Promete que seguirá sendo uma pessoa gentil, carinhosa e educada, que não usará a rotina como desculpa para sua falta de humor?
- Promete que fará sexo sem pudores, que fará filhos por amor e por vontade, e não porque é o que esperam de você, e que os educará para serem independentes e bem informados sobre a realidade que os aguarda?
- Promete que não falará mal da pessoa com quem casou só para arrancar risadas dos outros?
- Promete que a palavra liberdade seguirá tendo a mesma importância que sempre teve na sua vida, que você saberá responsabilizar-se por si mesmo sem ficar escravizado pelo outro e que saberá lidar com sua própria solidão, que casamento algum elimina?
- Promete que será tão você mesmo quanto era minutos antes de entrar na igreja?
Sendo assim, declaro-os muito mais que marido e mulher: declaro-os maduros."


  

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

de idade

  Acordei de mal jeito e pensei, o que a gente ganha com a idade, chamam de experiência, chamam também de preconceitos, de qualquer sorte é algo que te previne do presente. Pra ser justo com os de muita idade, e correto com os de pouca, vamos chamar isso de prudência, mas a coisa que vem com a idade mesmo e não dá pra negar é dor na coluna. Do lado da minha mãe vem problemas nos ossos. Do meu pai problemas no sangue. Acordar de mal jeito é foda, estou extremamente reclamão.

  Com vinte e seis anos estou terminando o curso de engenharia mecânica velho. Todo ano tem engenheiro saindo com vinte três, vinte e dois. Me alegra pensar sobre a vida social dessas pessoas, a quantidade de relações amorosas, livros lidos, bebedeiras, músicas, viagens, estágios, etc. Em fim, tem um monte de desculpas que eu inventei pra arrastar a faculdade. Mas a verdade é que eu enrolei um monte de gente, que me acha inteligente agora. Quanto a ser enrolado é diferente, quando começa a enrolação acadêmica eu abandono a cadeira, foi o caso da cadeira ministrada pelo engenheiro Reinaldo de Falco, um dos mais experientes da Petrobras em máquinas de fluxo, mas um não doutor, nem mestre, um engenheiro. A primeira vez que me veio o livro do de Falco eu aceitei que ia aprender muito da vida de um engenheiro. Mas quando ele começou a falar das bombas de bronze, e outras coisas antigas, ou de idade, eu vi que realmente iria aprender muito da vida de um engenheiro de 70 e poucos anos. Por certo que a pior coisa que nós enfrentarmos é nós mesmo.

  Abandonei a cadeira da primeira vez, mas a materia é obrigatória, então me municiei de boa vontade e fui enfrentar de novo. O sujeito contraditório, ensina de um jeito, escreve no livro de outro, e cobra na prova de um terceiro jeito. A galera cheia de gabaritos antigos, colando adoidada, achando tudo isso pouco, mas não entendendo nada. Além da bomba de bronze, e de não aceitar a existência de materiais novos como inconel, hastelloy e outras ligas, ele exemplifica o uso de ventiladores como meio de transporte de correspondência. Correspondências! Eu ví isso num jogo da lucas arts que se ambientava nos anos 30, uma empresa conectada por tubos de acrílico para o transporte documentos.

  Detestava o de Falco. Aprendi a gostar dele, e ver a aula como uma aula de história. Aconteceu quando ele estava passando o catálogo de máquinas de uma empresa de Chicago, era um catalogo muito velho, com gravuras no estilo americano da epoca, faltava uma senhora pin up ao lado das bombas. O aluno do meu lado era alto, não muito gordo, usava calças justas, camisa pra dentro, sapatos lustrosos e cabelo oleoso dividido ao meio. Quando ele me passou o catálogo foi que eu entendi como iria gostar daquela materia, entrando no clima! Uma conclusão prudente, vinda do preconceito e da experiência.

   Semana que vem é a prova, e o que eu mais me lembro da aula é o de Falco falando sobre mudar o disco, o ábaco e as unidades de pés cúbicos por minuto. Será que isso vai ser útil, ou é mais uma coisa pra eu reclamar que nem um velho de outro velho, ou senhor de idade.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Russos

aos leitores do meu blog:

A maior parte dos leitores disso aqui estão no Brasil, mas tb tem acessos a esse blog na França, Estados Unidos, Alemanha, Portugal e Russia!! Russia é o pais estrangeiro que mais lê o blog! alguem explica?

adendo2: não confiar no spellchecker do blogger.com, ele ferra com o meu texto.

POEMINHA DO CONTRA

Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!

- Mario Quintana

Contradição de Alan Sommer

A vida passadia é um grande canteiro de obras agora, os dias são obras do lado de fora, e com a vespertina vem as reformas do lado de dentro. Passam os dias e acontece de novo. Tudo se modifica, quebram coisas velhas, constroem coisas novas, e mudam as coisas antigas. Tudo passa por dentro e por fora, a única coisa que não passa é a bonita. E eu.
E eu, que voltei da faculdade pra estudar em casa me deparei com um individuo virando massa na calçada, acompanhado de duas dúzias de sacos de areia, O responsável da obra está, questionei eu sorridente, Não senhor, só mais tarde, colocou o trabalhador de boa vontade, provavelmente por não ter muita conversa ou sorriso no seu trabalho. Subi o elevador pra cuidar da minha reforma, hoje é dia de quebrar as janelas do quarto da Pilar, amanha se instalam as janelas novas. As marretadas, somadas a escavadeira na obra da frente, a makita na obra do lado, e o barulho não identificado na obra dos fundos dificultam o estudo ou o descanso. Ainda bem que agora eu tenho a onde reclamar.

Já é mais tarde, e eu vou voltar lá pra avisar ao arquiteto responsável pela obra que os sacos de areia dormiram ontem ao relento, e que a Comlurb, cumprindo o justo papel de fazer a limpeza urbana, vai levar o entulho da calçada à pedido dos moradores se calhar de dormir por lá uma noite a mais. Isso com a raivinha sorridente. Eles jogaram agua na minha avó que passava por lá anteontem e ela não soube colocar nesses termos.

Mas a raivinha é coisa que também passa, e no fim, quando tudo passar, vai ficar uma alegria senhora. O que hoje não passa, passaria, quem hoje não passa, passará então.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

#caixinhas

onze dias sem escrever: Acho bom, a gente usa cada coisa esquisita para organizar as ideias. Eu mesmo só não fiz terapia, já foi o tempo de pegar a pracha de surf e ficar 3 horas de molho na praia da Barra, as vezes vinha uma onda que prestasse, as vezes uma série, o que nunca prestou mesmo foi aquela prancha que agora está toda infiltrada, amarela e com as quilhas que caem cada meia dúzia de vezes que entram em uso, mas está ai, decorando, ou ocupando espaço, no meu quarto. Surf, violão, yoga, piano, bebida, pensando bem era um monte de coisas que rotulam o sujeito de vagabundo, mas comigo sempre foi para arrumar as ideias.

Piada de stand-up comedy, foi de onde eu tirei a ideia, alias uma apresentação muito engraçada que eu postarei aqui se encontrar. A cabeça do homem se organiza em caixinhas, tem uma caixinha pro trabalho, uma pro carro, uma pra mulher, família, amigos, etc., e o mais importante, as caixinhas não se misturam. Quando o homem quer lidar com um assunto pega uma caixinha com todo cuidado pra não tocar nas outras, abre e cuida daquele, e somente daquele, assunto. Depois fecha e põem de volta no lugar certo com todo cuidado. Já a mulher evoluiu de modo diferente, a cabeça feminina é uma grande rede onde tudo se liga com tudo. Comida, festa, minha mãe, amiga que acabou com o namorado, seu trabalho, presente da sogra, final de semana, roupa... Dai vem a grande aflição do homem: querer ajudar a mulher com um problema. O processo da caixinha não se aplica mais. A mulher em crise abre um processo onde ela escolhe prioridades, dentro de certos critérios, para achar uma primeira solução, contemplando tudo que já se viveu, e esse processo é continuado.

No climax, quando o comediante já ganhou a platéia, ele apresenta a caixinha mais importante do homem: a caixinha do NADA. Existe uma caixinha vazia, e é ela que organiza a cabeça do homem. Quando o sujeito se abosta no sofá de frente pra tevê trocando os canais a cada 15 segundos gera uma aflição enorme na mulher, pois ele só está cuidando da sua caixinha favorita, a caixinha do nada, e o funcionamento cerebral http dela não pode conceber. A piada é extendida por mais 5 minutos, o comediante sai do palco repentinamente, eles fazem isso pra que a apresentação termine no ponto alto.

Não concordo com nada disso, ou talvez eu tenha as duas cabeças. Mas acho que a maior parte das pessoas legais, como eu, devem ter mesmo uma parte masculina e uma feminina na cabeça. Fosse um twitter, e não um blog, eu era um emo, e terminava com #mamãesoulegal

Pra que serve o '#' mesmo?

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A referencia:  http://youtu.be/if3mRWkoriI

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

a metalinguagem de reclamar

Estão postas três formas com as quais emoções incontroláveis afloram, reclamação, choro e riso. E, salvo o viés de histeria, todas tem um quê de alívio. O sonoro puta-que-o-pariu no trânsito é tão difícil de reprimir quanto a risada frouxa provocada por uma desaventurança alheia, como uma flatulência na hora errada. Existem também as propensões, que é quando o desejo de reclamar encontra um alguém medianamente loquaz, haja yoga, haja calma, tome adjetivos.

O alívio é tão melhor quanto justo, é tirar os sapatos apertados ao chegar em casa após um dia inteiro construindo o merecimento, e no dia seguinte colocar os mesmos sapatos, e onde há justiça aqui entenda-se pela balança entre dois desejos. Pois diga então quem quer se ver curado do desejo. Mas a gente sempre ouve, Chora que faz bem, Ri que faz bem, e nunca reclama que faz bem, sendo a reclamação dentre as outras duas a única forma de expurgo verbal, que nos chega praguejando palavras de alivio mais pesadas que o ar ou a água.

Apelando para as sensações, pois eu já vi que quem se preza a escrever por ai tem que apelar para as sensações, assim como o choro é o desabotoar dos olhos, e o riso um desafrouxar dos lábios, a reclamação é o desatar de um nó na garganta, e as cordas sempre vão cair em outra pessoa numa enganosa sensação de justiça.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

2- Yogaçcittavṛttinirodhaḥ

Aparentemente o titulo está todo errado, com certeza que não existe essa palavra no português. Tem vezes que a gente sente vontade de falar uma coisa que a gente mesmo não entende, e acaba saindo tudo emaranhado assim, como se a gente tropeçasse em palavras espinhentas, num quintal de outras palavras floridas, para aprender uma lição, palavras são como perfume, uma questão de gosto. A boa comunicação brota da vivencia, Um aventureiro que não entende isso vai pegar um barco instavel para enfrentar as vicissitudes temporais, e pode acabar mal.


O titulo, que está escrito no alfabeto internacional de transliteração do sânscrito, faz parte do principal texto do yoga, Os Yogasutras de Patañjali. A obra toda contém 196 aforismos, esse é o segundo deles. São apenas quatro palavras em sânscrito: yogaç citta vṛtti nirodhaḥ, e até hoje há desinteligência académica, e o pior, tácita, a respeito do significado delas. Neófito navegante do oceano indico, que guarda o conhecimento do yoga, eu vou do alto do cesto da gávea me botar a falar minhas impressões sobre esse ensinamento.
A palavra nirodhaḥ em sânscrito é o movimento de recolher para dentro, citta é a mente, onde mora a consciência, vṛtti são os meios de expressão. Embaralhando tudo temos: O yoga é o recolhimento dos meios de expressão da mente. Alguns mestres explicam que os vṛtti (meios de expressão) da mente (lar da conciência) é o que nos faz separar as coisas, fugindo da unidade maior. Para compreender isso devemos aceitar três coisas, Um, que as conciências dos homens são unas umas com as outras, Dois, que elas também são unas com todas as coisas do mundo, Três, que nosso esforço mental, racional, nos serve para separar as coisas umas das outras. O yoga tenta suprimir a separação das coisas, raiz do sofrimento.
E todas as palavras esdrúxulas vindas dos sentimentos esdrúxulos parecem inúteis,.

domingo, 30 de outubro de 2011

Um adendo a ser posto no quesito razoabilidade é que a Barra da Tijuca não é Miami, ou Los Angeles, nem uma estátua feia e atarracada faz guardar semelhança com New York. São essas errancias da vida que me botaram lá dentro do maior shopping dessas bandas em uma loja de sapatos, primeiro precisava de um ténis para correr e depois estava lá, nesses tempo de ecologia não se pode desperdiçar caixas d'água na execução de leporídeos. O vendedor logo tratou de me apontar um modelo de 600 reais, Depois de meia duzia escolhi um pela metade do primeiro. No caixa a moça quis me confidenciar a promoção da loja, por mais vinte reais você concorre a 200 mil, mas minha querida eu não compro nem raspadinha, mas assim você nunca vai ganhar nada na vida, tem que concorrer, mais uns três ou quatro argumentos de lá e de cá eu finalizei o dialogo deixando claro que aquele sorteio era ilegal, a caixa concordou e desistiu. É o quanto se leva hoje em dia para fugir das ofertas de promoções abusivas.

O pôr do sol nesse bairro é uma manifestação da natureza capaz de abismar o mais taciturno. Se é inevitável que os recursos migrem para oeste da cidade, em detrimento do norte e do centro, que pelo menos se guarde o devido respeito às coisas sagradas. O mar, o verde, o canal e a pedra ao fundo, às pessoas.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Sexta feira, dia 28 de outubro de dois mil e onze

Dia do Funcionalismo público, e sendo adicionalmente o dia adventício do final de semana a rua fica morosa. Nossa senhora de Copacabana é a prima classe media da Ataulpho e da Visconde. As pessoas todas são bonitas e/ou interessantes. No caminho tem uma música que toca na cabeça. De um primo meu da família italiana ouvi ontem que todo mundo devia morar um ano em paris ou em roma, e quanto as pessoas que vem de fora para copacabana. Tem uma expressão cuja tradução escapa as capacidades dos menos letrados na língua inglesa, take it for granted.

Entrar numa loja masculina e procurar um cinto para o casamento é quase voltar no tempo, os vendedores com mais de 60 anos, o estilo muito clássico, acaba vindo uma bermuda junto do cinto. Seu Pituca, meu avó, dizia pra tomar cuidado e não comprar o que você não quer, com o dinheiro que você não tem, pra agradar pessoas que você não gosta e pra que elas pensem que você é uma pessoa que você não é. É impossível não se distrair com a vitrine de um sexshop, o manequim masculino usa faixas de couro e uma calcinha, e distraído se pega um panfleto do salão de beleza. Fixando o olhar no papel percebo que está em branco, a moça com um sorriso amarelo panfleta outro papel para mim que por pena vai parar no bolso. No caixa da delli nova a moça é velha e simpática, a loja faz sorteios de vinhos de trezentos reais e queijos de duzentos, eu não falaria em qual rua de jeito nenhum. O objetivo é chegar na Viveiro de Castro e trocar o controle remoto do ar condicionado, o código da peça de substituição não esta no controle, mas no cabo de força do ar ou na parte interna do aparelho, viagem perdida, porrãn..

Luciano Huck vai da porta do Othon até seu blindado, o trocador Olha lá o Luciano Huck, o motorista retruca sem vontade Eu não patrocino o caldeirão. Na porta da Van escrito Criança de 6 anos pagam inteira mesmo no colo. Na fila do frango de padaria uma moça negra e loira com uma camisa de San Francisco, California.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

brs1 de leblon a copacabana

É da janela do ónibus, a partir da curva que delimita o fim de copanema e a chegada a copacabana, bem pouco depois de virar que se vê Anjon Ltda - jóias, prata, alianças, conserto de relógio. Essa loja na rua Sá Ferreira pertence a um grupo de velhinhos judeus, muito bonzinhos, e razoavelmente prestativos, porém com a acuidade para questões de dinheiro inaterada pela idade. Condenaram meu relógio. Parou por tombar. Tombo é assim, E será que não tem conserto, Não. Que houvesse conserto não parecia fechar na matemática de quem sabe o que é o trabalho válido, fica pelo caminho e vai pra gaveta das coisas por resolver que sempre ficam pelo caminho.

O caminho é feito de ónibus e sempre é um passeio fantástico. Gosto de sentar no banco alto. Do leblon a copacabana se vê uma série de lojas, e é como um shopping a céu aberto, exceto pela falta que faz a padronização, tudo tem cor e formatação diferente. Os letreiros são mais gritantes do que discretos, e volumosos, que mesmo num passeio a pé é impossível absorver o manacial sem fim de informação, E placas de transito, sinais, os olhos correm pra dentro do ónibus fugindo, chegam a lacrimejar um pouco como quem se enxuga para fora, televisão interna, ónibus tem disso agora, autoridades competentes investigam possível abuso sexual contra Gaddafi. Uma coisa muito inglória para a hora derradeira, triste. Daqui a 30 anos o jovem libanês vai se gabar ao explicar para os amigos do colégio, Meu avô comeu a bunda do Gaddafi, Claro, houve a revolução e tal, nós acabamos com ele mesmo, eu sei, não, não, comeu literalmente, ah... sim, ô. Se o poema de sete faces de Drummond não tomasse um bonde, mas um ónibus brs1, ele era de se indagar Pra que tanta coisa escrita, meu Deus, pergunta meu coração./ Porém meus olhos/ não perguntam nada.

Caio. Nas costas de todos os assentos Caio. É a marca do ónibus, ninguém pensa quem é esse tal Caio de quê. Que cara egocêntrico, colocando o nome em tudo quanto é lugar. A internet, mãe-dos-burros diz, Companhia Americana Industrial de Ónibus - CAIO. E ainda é brega.